segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Noite do terror

Noite do terror
Evangélicos causam escândalo ao tentar ressuscitar criança morta
Paulínia, cidade da região de Campinas, no interior paulista, presenciou no domingo, 12 de maio, uma autêntica história de terror. E os protagonistas não foram ladrões ou sequestradores que andam apavorando a região, e sim, um grupo de evangélicos. Após o culto noturno da Assembleia de Deus, no bairro de Vila Nunes, cerca de 30 crentes, comandados pelo pastor Claudinei Batista de Paiva, 33 anos, deixaram o templo e se dirigiram para o Cemitério Municipal. Lá, eles arrombaram os portões, violaram o túmulo e desenterraram a menina Nicole Camilo Ramos, morta havia quatro dias. O corpo, já em decomposição, foi colocado sobre uma laje e o grupo começou a orar pedindo a ressurreição da menina. Acionada através de denúncia de uma das testemunhas, a polícia chegou ao local e acabou com o ritual. Do grupo, dez pessoas foram detidas, incluindo o pastor e os pais da criança.
Nicole, de apenas um ano, morreu atropelada acidentalmente pelo próprio pai, o comerciante Marcos Donizete Ramos. Ele manobrava seu carro, na garagem de casa, e não viu a garota. Inconformada com a tragédia, a família buscou o socorro espiritual da igreja. Em depoimento à polícia e aparentando tranquilidade, o pastor Claudinei contou que recebera uma revelação de Deus, mandando que ele ressuscitasse a filha do comerciante. "Temos que ter calma. Todos estavam tomados por sorte emoção por causa da maneira como a menina morreu", comentou Jair Pedro, um dos quatro advogados contratados pela Assembleia de Deus para acompanhar o caso.
Reação popular - O coveiro Adriano Trindade, que há 30 anos trabalha no cemitério, disse que nunca viu caso semelhante. O grupo foi autuado em flagrante por violação de sepultura, vilipêndio de cadáver e danos a patrimônio público. As penas somadas podem chegar a três anos de prisão para cada um dos envolvidos. Eles responderão ao processo em liberdade, pois apesar do Código Penal considerara violação de túmulo um crime inafiançável, os advogados da igreja conseguiram um habeas-corpus alegando que os réus são primários.
Em entrevista concedida à imprensa, o dirigente regional da Assembleia de Deus, pastor Samuel Ferreira, prometeu rigor na apuração do caso. Apesar da denominação pentecostal acreditar em milagres como a ressurreição de mortos, Samuel entende que Claudinei foi movido por uma fé cega. A Bíblia relata vários casos de mortos que voltaram à vida milagrosamente. Contudo, os inúmeros relatos de milagres semelhantes ocorridos hoje em dia carecem de comprovação médica, ficando restritos ao campo da fé.
Além de responder à Justiça como mentor do crime, Claudinei será submetido a uma sindicância interna da igreja para apurar os excessos do ato. Enquanto aguarda o desfecho, o pastor já resolveu que vai se mudar de cidade com a família. Ele sente-se ameaçado devido à reação popular que o episódio suscitou.


---
Fonte:
Revista Eclésia. Ano VII - Nº 78 - Junho de 2002. Editora Eclesia. São Paulo, pág. 26.

Nenhum comentário:

Postar um comentário