Noite do terror
Evangélicos
causam escândalo ao tentar ressuscitar criança morta
Paulínia,
cidade da região de Campinas, no interior paulista, presenciou no domingo, 12
de maio, uma autêntica história de terror. E os protagonistas não foram ladrões
ou sequestradores que andam apavorando a região, e sim, um grupo de
evangélicos. Após o culto noturno da Assembleia de Deus, no bairro de Vila
Nunes, cerca de 30 crentes, comandados pelo pastor Claudinei Batista de Paiva,
33 anos, deixaram o templo e se dirigiram para o Cemitério Municipal. Lá, eles
arrombaram os portões, violaram o túmulo e desenterraram a menina Nicole Camilo
Ramos, morta havia quatro dias. O corpo, já em decomposição, foi colocado sobre
uma laje e o grupo começou a orar pedindo a ressurreição da menina. Acionada
através de denúncia de uma das testemunhas, a polícia chegou ao local e acabou
com o ritual. Do grupo, dez pessoas foram detidas, incluindo o pastor e os pais
da criança.
Nicole, de
apenas um ano, morreu atropelada acidentalmente pelo próprio pai, o comerciante
Marcos Donizete Ramos. Ele manobrava seu carro, na garagem de casa, e não viu a
garota. Inconformada com a tragédia, a família buscou o socorro espiritual da
igreja. Em depoimento à polícia e aparentando tranquilidade, o pastor Claudinei
contou que recebera uma revelação de Deus, mandando que ele ressuscitasse a
filha do comerciante. "Temos que ter calma. Todos estavam tomados por sorte
emoção por causa da maneira como a menina morreu", comentou Jair Pedro, um
dos quatro advogados contratados pela Assembleia de Deus para acompanhar o
caso.
Reação popular - O coveiro Adriano
Trindade, que há 30 anos trabalha no cemitério, disse que nunca viu caso
semelhante. O grupo foi autuado em flagrante por violação de sepultura,
vilipêndio de cadáver e danos a patrimônio público. As penas somadas podem
chegar a três anos de prisão para cada um dos envolvidos. Eles responderão ao
processo em liberdade, pois apesar do Código Penal considerara violação de
túmulo um crime inafiançável, os advogados da igreja conseguiram um
habeas-corpus alegando que os réus são primários.
Em
entrevista concedida à imprensa, o dirigente regional da Assembleia de Deus,
pastor Samuel Ferreira, prometeu rigor na apuração do caso. Apesar da
denominação pentecostal acreditar em milagres como a ressurreição de mortos,
Samuel entende que Claudinei foi movido por uma fé cega. A Bíblia relata vários
casos de mortos que voltaram à vida milagrosamente. Contudo, os inúmeros
relatos de milagres semelhantes ocorridos hoje em dia carecem de comprovação
médica, ficando restritos ao campo da fé.
Além de
responder à Justiça como mentor do crime, Claudinei será submetido a uma
sindicância interna da igreja para apurar os excessos do ato. Enquanto aguarda
o desfecho, o pastor já resolveu que vai se mudar de cidade com a família. Ele
sente-se ameaçado devido à reação popular que o episódio suscitou.
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Fonte:
Revista Eclésia. Ano VII - Nº 78 - Junho de 2002. Editora Eclesia. São Paulo, pág. 26.
Fonte:
Revista Eclésia. Ano VII - Nº 78 - Junho de 2002. Editora Eclesia. São Paulo, pág. 26.
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